Refletir sobre a relação entre os personagens do nosso momumental « Tristan und Isolde » contribui para uma melhor e mais profunda interação com a obra. Construir uma análise astrológica é algo que me atrai, justamente por lidar com a dualidade, com a questão da oposição, da complementação, algo que é frequente em “Tristan”. Vejam a figura abaixo, analisando-a pelos eixos dos opostos complementares:
Começaremos esclarecendo o signo de Áries, pois é o que inicia o zoodíaco, é o que representa o desbravador, o herói (mártir geralmente), a ação em si. Ai encontramos Morold ( e em partes, também Tristan, pois Áries é regido pelo planeta Marte, que também é co-regente de Escorpião). Enquanto oposto complementar temos Isolde no signo de Libra, regido por Vênus, a Isolde “noiva”, a princesa que aguarda seu herói, que conhece as artes de sua mãe, que vive nos padrões impostos pela corte na qual ela habita.
Porém nossa história começa já no signo de Touro, e claro, com Isolde. Touro também é regido por Vênus, porém a Vênus em Touro “perde” em diplomacia e “ganha” em obstinação. É a Vênus que seduz, que quer ter, controlar, dominar à situação. Ela vai até o fim para atingir seu objetivo: Escorpião, logo, Tristan. Escorpião, que é co-regido por Marte mas principalmente pelo planeta Plutão, planeta da magia, da destruição, da transmutação, das potências que cada espírito porta em si, muitas vezes inconscientemente. Isolde já rompeu com o convencionalismo libriano quando, através do olhar de Tristan, descobriu que o verdadeiro Amor é incondicional, ou seja, no nosso mundo de relações de tempo e espaço, regido por condições, esse Amor não tem espaço (o olhar é regido pelo planeta Urano, acesse o texto aqui) . Tristan, o fruto da tristeza, que porta naturalmente as características plutônicas, que re-ganhou a vida das mãos de Isolde, ainda é um servidor do “dia”, da falsa luz, das convenções.
Ele é também o signo de Capricórnio com sua regência Saturnina, o qual falaremos mais adiante.
No eixo de Áries e Libra temos signos cardinais, são os que iniciam, a base, os princípios. No eixo Touro e Escorpião temos os signos fixos, onde a história acontece, a carga pesada e mal resolvida que busca uma solução, e no eixo de Gêmeos e Sagitário, signos mutáveis, temos os que ajudam a sustentar a trama, os que dão as chaves, os apoios, os que fazem circular a energia, que dão movimento na busca para uma resolução.
No signo de Gêmeos encontramos Kurvenal, Melot e Brangaine. Todos portam as características do planeta regente, Mercúrio, são eles os que levam informações, preparam ambientes, seja uma emboscada ou uma colaboração para cada situação. Apesar de Brangaine e Kurvenal terem fortes características de um Mercúrio no signo de Virgem, pois são fiéis servidores de seus respectivos “mestres”, o comunicativo, conector e dinâmico Mercúrio em Gêmeos o descrevem bem, tendo como complemento o grande Rei Marke, que encontra aqui a representação de seu bom nobre coração, jupiteriano, típico do signo de Sagitário. É o Rei Marke no 3° Ato.
A complexidade de Isolde e Tristan ocupam também a relação entre os signos que são o grande eixo vertical da mandala astrológica, a coluna vertebral, o eixo Câncer e Capricórnio. Junto com Áries e Libra, são os eixos que representam a cruz da vida, o espírito crucificado na matéria encontra ai o ponto que o aprisiona, e sabendo olhar para si mesmo, encontra também a chave da libertação. Isolde esta presente tanto em Libra quanto em Câncer, é a única presente nos 2 eixos cruciais do zoodíaco. É ela que, espelhando-se no próprio Tristan, encontrará e entregará à ele à chave de sua libertação. Câncer é a natureza interior, as emoções, a imaginação, a mãe de quem Isolde herdou o conhecimento das Artes, os ciclos da vida, as alternâncias, sejam das marés ou dos humores de cada um. Regido pela Lua, Câncer é a representação da alma. é o que porta aquilo que extraimos dessa vida e que enriquecerá nosso caminho enquanto espírito; é Isolde. Ela que vivencia as mais variadas sensações no grande navio de Tristan no primeiro ato, ela que nos esclarece a história, ela, a emoção que busca a razão: Tristan, Capricórnio e seu regente Saturno, o planeta da dor. Saturno é castrador, limitativo, difícil, pesado, é a razão que castra as emoções, é o que mantém a ordem, o “status quo”. É o topo da montanha, a solidão, o raciocínio lógico, a realidade. Porém no mais alto nível é o Sacrifício, o acreditar, a fé inabalável, o exemplo em si mesmo, é o Mártir como o Marte (em Áries) porém consciente.
O que transforma Tristan em uma nobre alma é justamente o efeito espelho que encontramos no eixo Leão e Aquário, onde temos o Rei Marke e Tristan, Marke é aqui o signo de Leão, a compaixão, a lealdade mesmo que não correspondida como esperado pelo seu fiel Tristan, e é também, quando complementa-se ao signo altruísta de Aquario, são ambos, Tristan e Marke, também o amor. Um amor ainda egóico que mesmo Tristan só vai aprender a ir além desse amor no 3°Ato. Amor que aprende ainda mais que amar ao próximo, que vai ao encontro do amor pela humanidade: é aquele que aprendeu a amar o Amor por si só. Leão é o signo do “Eu sou”, em Aquário, através do amor altruísta chega-se ao “Eu amo”. E ponto.
E toda nossa história acontece no eixo do destino maduro, da dívida kármica que cada um assume consigo mesmo, no eixo de Virgem e Peixes. Serviço e Sacrifício tornam-se um só. E lá temos o reino do dia, no signo de Virgem, e o reino da noite, no signo de peixes. O Reino do dia que é o reino da falsa luz, o que serve como cenário para as convenções impostas pela sociedade, onde a luz produz sombras, mundo de aparências e ilusão, é o consciente limitativo, com regras castradoras, mundo da pluralidade, é o mundo onde se “vive”, porém “morto”, mas é no reino do dia que os amantes encontrarão os elementos para a purificação, é na luz do dia Tristan se lança sobre a espada de Melot, e na mesma luz que teremos o “Liebestod”, a morte de amor de Isolde. Mas o reino do dia opõem-se ao reino da noite, da luz interior, a luz espiritual, o brilho que só percebemos se sairmos da falsa luz, a verdadeira realidade enquanto essência, a união mística, o inconsciente, o mundo original (absoluto) onde “morre-se” para viver, onde após a purificação teremos o sacrifício.
De qualquer forma Tristan e Isolde não buscam a morte física, buscam esse mundo mágico do Reino da Noite, que escapa da relação entre tempo e espaço. Peixes, o reino da noite, regido pelo místico e transcendente planeta Netuno, vai ter seu oposto complementar em Virgem, o reino do dia, regido por mercúrio (assim como gêmeos) que transita nos mais diferentes níveis para que tenhamos o ordinário servindo como a base para o extraordinário acontecer.