Foto de Alvaro Garcia, Jornal "El Pais"

O Misticismo que une Tristan e Isolde

Quando Tristan finalmente vai ao encontro de Isolde antes de descer na Cornualha, temos um leitmotiv que se repete 4 vezes.
(Clique aqui para ver este trecho da opera. Começa a partir dos 5 minutos do video)

Quatro que significa também o magnífico quaternário mágico do CALAR-SE, SABER, PODER e OUSAR, que é um método prático para aqueles que querem trilhar um caminho espiritual de auto conhecimento; e que deixa clara a união mística que buscam os nossos amantes.

Esclarecendo estes quatro principios, entendemos que CALAR-SE vai obrigatoriamente preceder o SABER, o PODER e o OUSAR, pois significa acalmar e silenciar o automatismo do intelecto e da imaginação, para atingir a devida concentração que traz conscinência para aquilo que se fala.

Dessa concentração, temos o saber que colhe os conhecimentos, as experiências, para transformar em sabedoria.
Este saber, fruto da reflexão pura, que fixando-se na memória, passa pelo processo de assimilação pelos pensamentos e sentimentos, para tornar-se uma mensagem, um simbolo comunicável.

Atingindo então o PODER enquanto querer, o poder que escolhe, que decide aquilo que quer buscar, onde e como buscar, pois pode fazê-lo, domina a situação.
Para "poder" finalmente OUSAR, onde ele ousa para elevar-se na verticalidade, além da criatura, até a essência do ser, o fogo criador divino.

Isolde vai nos dizer que ela também aprendeu a CALAR-SE quando escondeu e curou Tristan, até finalmente Tristan entender também o chamado da "Rainha do silencio" quando ele diz, no primeiro ato:
"Des Schweigens Herrin
A senhora do Silencio
heisst mich schweigen:
manda-me calar
fass' ich, was sie verschwieg,
se comprendo do que ela silencia
verschweig ich, was sie nicht fasst.
silencio sobre o que ela não compreende."

Isolde sabe o que quer, mais do que a reconciliação ela quer a quebra do convencionalismo. Todos os tipos de experiências e sentimentos que ela viveu em relação à Tristan trouxe a ela a revelação de que não se há espaço para o verdadeiro Amor dentro de estruturas impostas pela sociedade, que ela esclarecerá à Tristan mostrando à ele como ambos estão vivendo nesse mundo de aparência.

No filtro temos uma representação do PODER, filtro de morte, que Isolde o chama como filtro de reconciliação (Sühnetrank) e Tristan o chamará como filtro do esquecimento (Vergessenstrank), porém podemos entender como o próprio filtro de amor, que vai dar forças para romper cpm as convenções. (entendendo que Amor e Morte são faces da mesma moeda).
Onde finalmente ambos podem ousar no que chamamos de verticalidade, realmente na busca da essência do ser. Enquanto corpo (Tristan) e alma (Isolde) servindo ao espírito para acumular experiências e viver as máximas potencialidades divinas que portam, acender em si a chama, o fiat criador, enquanto deuses em formação.

Isolde já afirma sua ousadia quando ela explica tudo o que se passou entre ela e Tristan, deixando claro seu desejo de vingança. Porém quando ela finaliza com a frase: "Tod uns beiden"(morte para nós dois), pode-se questionar: Se ela quer vingança, porque morrer junto com Tristan?

Encontraremos a resposta no próprio libreto:

So stürben wir, Assim nós morreremos,
um ungetrennt, para não sermos mais separados,
ewig einig eternamente unidos,
ohne End', sem fim,
ohn' Erwachen, sem acordar,
ohn' Erbangen, sem medo,
namenlos sem nome,
in Lieb' umfangen, encontrando-se no amor,
ganz uns selbst gegeben, dados inteiramente um ao outro,

der Liebe nur zu leben !

para viver somente pelo amor !


E deixemos que a musica fale por si mesma:



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