Como vimos com a Annick de Souzenelle, as palavras “costela” e “lado” são a mesma palavra em hebreu. Eva foi feita, não da costela, mas do “lado” de Adão, representando o seu lado feminino, aquele que ele deve unir-se, tomar como esposa, para tornar-se um Ser completo.
Amfortas porta a ferida incurável no “lado”, pois não sabendo dominar-se, deixou-se seduzir, caindo do nível divino para o nível carnal. Mas por que Parsifal resiste ao poder de sedução de Kundry? Sendo o puro, tolo, inocente, Parsifal é ainda ingênuo, precisa de alguém que lhe indique o caminho do casamento místico, o casamento do masculino e feminino que deve acontecer no interior de nós. E quem mostra tal caminho é justamente Kundry, o feminino em si, lembrando à Parsifal a memória de sua “mãe”. O ser humano tem uma memória secreta o ensinando que seu destino divino é o casamento com sua “mãe das profundezas” , seu femino interior, devendo então buscar o equilíbrio entre seus pólos feminino e masculino. “Macho”, masculino, em hebreu significa “se lembrar” e “fêmea”, feminino, significa “recipiente que contém”. O ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus, trabalha seu pólo masculino uma vez que se lembra da Imagem de Deus enquanto sua essência, partindo assim à conquista do seu “feminino” interior, a imensa reserva de energia que jorra da inesgotável e profunda fonte interior do seu Ser.
Partindo de uma visão simplista, Kundry seria a figura da “prostituta”; definição aceitável se partirmos do idioma hebreu, onde prostituta e santa são a mesma palavra! Pois Kundry nada mais é que o espelho que Parsifal precisa.
A pureza de Parsifal o permite ver essa dualidade em Kundry, tanto que seu destino é exatamente aquele indicado por Kundry: ele vai errar pelo mundo, encontrar todos os caminhos exceto aquele que ele procura, que é o caminho que leva à Amfortas, para poder curá-lo.
Em sua errança pelo mundo, utilizando apenas do poder curador da lança, ele é o Servo de todos, e através do Serviço, de uma vida pura, ele “conquista” seu lado feminino, seu casamento com o divino, podendo assim indicar o caminho para Amfortas, finalmente curando-o.
Lembremos que nós, enquanto humanidade, portamos a mesma ferida que Amfortas, caímos do nível divino para o nível carnal, onde dependemos também do “Redentor”. Conquistemos nossa pureza interior, através do amor, tornando-nos “Parsifal” para assim também não so aguardarmos pela redenção mas sim colaborarmos no alívio da dor da humanidade.
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