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Nona sinfonia de Beethoven: “Alle Menschen werden Brüder” (todos tornam-se irmãos)
Eu vos abraço, ó milhões!
Lanço um beijo ao mundo inteiro!
Irmãos! Acima das estrelas do céu
Um Pai bondoso tem sua morada.
Prostrai-vos ante Ele, milhões!
Sentes teu Criador, Mundo?
Procura-o acima das estrelas do céu,
Acima delas Ele há de estar.”
Este final da Nona Sinfonia de Beethoven, do poema do magnifico poeta Schiller, é como eu vejo o trabalho de Daniel Barenboim juntamente com a orquestra West-Eastern Divan e todos que fazem esse projeto acontecer!
Recebi recentemente o DVD que foi gravado no dia 27 de agosto de 2006, no teatro filarmônico de Berlin, onde Daniel Barenboim rege esta majestosa sinfonia com sua orquestra contado com os solistas: René Pape, Angela Denoke, Burkhard Fritz e claro, Waltraud Meier!
Gravação na qual eu estava presente fisicamente, foi a primeira oportunidade que tive de estar junto dessas pessoas que fazem esse lindo trabalho de enviar uma mensagem de paz e amor ao mundo inteiro.
Foi uma verdadeira “Ode à alegria”, mais que uma experiência musical, uma experiência de união, de harmonia e solidariedade, onde todo e qualquer conflito, seja ele de raça, religioso ou politico, simplesmente não tinha espaço, pois ali eramos todos irmãos enquanto espíritos, seres buscando o real sentido da vida: o amor.
Acredito que esta ultima grande sinfonia de Beethoven realmente é o que podemos entender pelo signo de Aquario, e seus planetas regentes em mais alto nivel, Saturno e Urano.
Estamos nos preparando, enquanto humanidade, para a era de Aquario, o aguadeiro, aquele que derrama a agua pura sobre os homens, o que transforma os sere humanos em Humanidade. A palavra chave desta hierarquia é “AMOR UNIVERSAL”, fraternidade universal, é a paz que sempre buscamos arquetipicamente mas que nossas atitudes nem sempre correspondem à tal busca.
Tal fraternidade universal que sera a “nova raça” humana, que não são um ou dois povos que vão evoluir mais do que os outros, pelo contrario, a nova raça que sera a união de todos os povos, a mistura necessaria para se obter a verdadeira e pura essencia de cada raça, isso é o signo de Aquario.
Urano é um planeta “elétrico”, sentimos essa vibração de energia no 4° movimento da nona sinfonia, algo realmente querendo romper com todos os paradigmas indo diretamente a essência das coisas, isso é a energia Uraniana, um planeta progressista, intuitivo e que busca a liberdade .
Porém temos Saturno, que mesmo sendo o planeta da obstrução, nesta Sinfonia ele é representado da forma mais aquariana possível, ele é o Pai, Deus Pai que nos ama e que nos protege, tendo seu complemento no signo de leão (Sol como planeta regente), o filho, o Cristo, que sacrificou-se para salvar a humanidade, preparando nossos campos vibratorios para a Nova Era.
E disso tudo temos um judeu sob a batuta de tal orquestra, com musicos do oriente médio, sendo muçulmanos, judeus e cristãos, cantando com alemães, em uma das cidades de grande participação na segunda guerra mundial, com um publico vindo dos 4 cantos do mundo... mas ali, através da musica e da arte, nada disso importa, todos somos um, seres espirituais, vivendo em amor...e Waltraud confirma essa impressão pelo brilho radiante do seu olhar...
A união de Siegmund e Sieglinde e o Equinocio da Primavera
Vão-se, em maio, as tormentas do inverno;
in mildem Lichte
em meiga luz
leuchtet der Lenz;
fulgura a Primavera;
auf lauen Lüften
pelos ares temperados,
lind und lieblich,
amenos e meigos,
Wunder webend
operando seus milagres,
er sich wiegt:
ela se move:
durch Wald und Auen
por florestas e prados,
weht sein Atem,
sopra o seu fôlego;
weit geöffnet
amplamente abertos,
lacht sein Aug’.
seus olhos sorriem.
Aus sel’ger Vöglein Sange
No gorjeio feliz do pássaro,
süß er tönt,
docemente ela ressoa;
holde Düfte
adoráveis fragrâncias
haucht er aus:
exala pelos espaços:
seinem warmen Blut entblühen
seu cálido sangue floresce
wonnige Blumen,
deleitosas flores;
Keim und Sproß entspringt seiner Kraft.
seu alento desabrocha gérmens e rebentos.
Mit zarter Waffen Zier
Com a beleza de tenras armas
bezwingt er die Welt;
ela domina o Mundo;
Winter und Sturm wichen der starken Wehr:
vão-se as fortes defesas do inverno e da tormenta:
Wohl mußte den tapfern Streichen
A esses intrépidos ventos, bem devem
die strenge Türe auch weichen,
ceder também as fortes portas;
die trotzig und starr
eles, obstinados e rijos,
uns - trennte von ihm.
apartam-nos dela.
Zu seiner Schwester
Por seu irmão
schwang er sich her;
moveu-se ela para cá;
die Liebe lockte den Lenz:
o amor cortejou a primavera:
in unsrem Busen
em nosso peito
barg sie sich tief;
alojaram-se, ao fundo,
nun lacht sie selig dem Licht.
e agora riem-se, felizes, à luz.
Die bräutliche Schwester
Ao irmão noivo
befreite der Bruder;
a irmã liberta;
zertrümmert liegt, was sie je getrennt;
cai por terra o que esteve a separá-los;
jauchzend grüßt sich
exultante, saúda-se
das junge Paar:
o jovem par:
vereint sind Liebe und Lenz!
unidos estão Amor e Primavera!"
Guardemos essa magia da poesia, mas aprofundemos em algumas mensagens místicas que essa ária incrivel vem nos mostrar.
Recapitulando brevemente, estamos na "segunda noite" da tetralogia de "O anel do Nibelungo", na ópera "As Valquirias" . Primeiramente, vimos que Wotan, o Deus que não consegue ser livre dos seus próprios acordos e tratados, criou os "Walsungs", raça formada da mistura de deuses com humanos, onde ali teria colocado sua esperança de liberdade. Tal esperança existe até o momento que Wotan é confrontado por Fricka, espírito do convencionalismo, que lhe mostra que ele que criou Siegmund, logo, ele é condicionado as vontades de Wotan, ou seja, Siegmund tambem não é livre...
Siegmund precisa romper sua ligação, seu "cordão umbilical" com Wotan para poder conquistar sua liberdade, desde que seja por sua própria vontade. Isso acontece quando ele conhece Sieglinde, sua alma-irmã, sua "Eva", aquele algo que ele sempre buscou e que na verdade faz parte dele.
Aqui é interessante conhecermos os estudos de Annick de Souzenelle, que diz que "Eva" foi atribuida ao conceito de mulher, enquanto divisão dos sexos; porém assim como o nome Eva (em hebreu Ishah) significa costela, significa também lado. Eva foi "feita" do "lado" de Adão, porém sendo ela mesma uma representação do outro lado de Adão, sendo o lado feminino dos pólos feminino e masculino do ser humano. Partindo desse principio, buscar a "alma gêmea", simbolicamente, representa primeiramente uma união em si mesmo para nos tornarmos seres completos.
Sieglinde e Siegmund são irmão gêmeos. Eles cresceram separados e agora estão prontos para esse rencontro, essa união em si mesmos, onde, só depois de tornarem-se este “Ser completo” podem gerar um outro ser, também completo; esse sim, livre. Assim temos Siegfried.
Essa união acontece em uma noite muito especial, no momento do Equinocio da Primavera que se dá justamente no início da Primavera (no hemisfério norte), momento que o sol cruza o equador e começa a ascender no hemisfério norte, que a duração do dia e da noite são iguais, de 12 horas (equilibrio entre dia e noite, entre luz e sombra). Neste momento o Sol deixa o aquoso signo de Peixes, que é também feminino e dócil, pelo marcial vigoroso e ígneo signo de Áries, o carneiro ou cordeiro, onde é exaltado em poder. É o momento onde a terra revigora-se, a natureza ganha seu verde, os animais procriam e os seres humanos podem desfrutar de uma energia incrível.
Momento propício para grandes seres incarnarem e realizarem um trabalho de eleveção vibratória na Terra, momento da concepção do nosso herói Siegfried, aquele que através da vitoria ganha a paz, que traz as carateristicas dos signos de Peixes e Áries, que será também o cordeiro sacrificial que libertará os deuses e proporcionará um novo recomeço.
Finalizemos com o poesia que responde Sieglinde, falando desse casamento mistico.
"Du bist der Lenz,
Tu és a Primavera,
nach dem ich verlangte
por quem ansiei
in frostigen Winters Frist.
no frígido tempo do inverno.
Dich grüßte mein Herz
Saudou-te o meu coração,
mit heiligen Grau’n,
com temor sacral,
als dein Blick zuerst mir erblühte.
quando teu olhar pela primeira vez me despertou. Fremdes nur sah ich von je,
Só estranhos antes eu via,
freundlos war mir das Nahe;
envolta por uma cercania sem amigos;
als hätt’ ich nie es gekannt,
como formas que eu jamais conhecera,
war, was immer mir kam.
era tudo o que me sempre vinha.
Doch dich kannt’ ich
Mas a ti eu identifiquei
deutlich und klar:
com nitidez e clareza:
als mein Auge dich sah,
assim que meus olhos te viram,
warst du mein Eigen;
te tornaste meu;
was im Busen ich barg,
o que eu guardava no peito,
was ich bin,
o que eu sou,
hell wie der Tag
claro como o dia
taucht’ es mir auf,
emergiu de mim,
wie tönender Schall
qual sonante eco
schlug’s an mein Ohr,
batendo em meus ouvidos,
als in frostig öder Fremde
quando, em meio à fria e deserta estranheza,
zuerst ich den Freund ersah.
vi pela primeira vez o amigo."
(meus especiais agradecimentos ao site "Wagner em portugues", pela bela tradução do libreto)
Mergulhando no coração da Waltraud... com Daniel Barenboim.
Após a leitura apaixonante do livro de Daniel Barenboim, “A música desperta o tempo”, não poderia deixar de compartilhar com vocês um trecho muito emocionante que ele escreveu a propósito da nossa querida Waltraud…
Falava a propósito da Orquestra West-East Divan, onde eles discutiam a possibilidade de tocar Wagner ou não. Decidiram tocá-lo, e lá é melhor mergulhamos nas palavras do prórpio Daniel…
“… No verão seguinte, Waltraud Meier estava conosco em Pilas, para participar nas atividades e repetir a Nona Sinfonia de Beethoven, que cantou conosco cinco vezes este verão. A tarde após a sua chegada, a pedi de aquecer a sua voz antes da repetição com orquestra porque tínhamos uma surpresa para ela. Ela pensava ouvir a repetição da Primeira Sinfonia de Brahms, igualmente ao programa da nossa turnê de concertos, e estava difícil de ela conter a sua curiosidade. Quando ela ouviu o início do Prelúdio de Tristan und Isolde, visivelmente ficou comovida; e, enquanto que a sala de repetição estava cheia de visitantes que se interessavam ao programa, para além de alguns jornalistas - que formavam uma espécie de público -, ela virou-lhes as costas, e olhando de frente para a orquestra, começou a cantar o Liebestod. Todos - Waltraud, a orquestra e eu – ficamos muito comovidos com a experiência. Viver a experiência de ouvir essa maravilhosa cantora alemã, comunicar com Árabes e Israelianos através da música de Wagner, foi como uma libertação da influência de tantos espíritos opressores, de tanto tabus. ”
As palavras de Daniel Barenboim tocam-me muito e proporciona-nos também a possibilidade de mergulhar um pouco no coração da Waltraud Meier… onde podemos descobrir alguém muito sensível, simples, que não tem medo de se doar, pelo contrário, doa-se com toda a força e amor da sua alma.
Obrigada Daniel Baremboim pelo seu maravilhoso livro!